sábado, 25 de setembro de 2010

Série: Grandes Pianistas



Fazia tempo que não postava sobre os grandes mestres do passado.
Chegou a hora de um dos maiores, Arturo Benedetti Michelangeli. O nome não nega, italiano, e daqueles marrentos, como todo italiano tem que ser.

Michelangeli nasceu na Bréscia em 5 de Janeiro de 1920 e faleceu em Lugano, 12 de junho de 1995. Começou a estudar muito jovem, e aos 18 participou de um concurso em Bruxelas que lhe garantiu um satisfatório 7º lugar. Um ano depois participa do Concurso Internacional de Piano de Genebra, esse sim, lhe garantiu o 1º lugar.

Obcecado pela perfeição, personalidade forte, temperamento difícil para não dizer impossível, fumante inveterado, elegante, excêntrico, genial. Aqueles que conviveram com o maestro jura que é tudo verdade.
Em suas apresentações não haviam exageros de caras e caretas. Sua cabeleira sempre impávida e seu olhar sóbrio perante uma complexa obra deixava claro qual sua intenção: Fazer música, pura e simplesmente.


Michelangeli, não dava entrevistas e pouco se apresentava. Cancelava concertos como quem bebia uma taça de vinho. E não se inportava. Certa vez, quando cancelou uma turnê no Japão, perguntaram a ele qual teria sido o prejuízo. Sem dar a menor importância para a pergunta, respondeu: Um disco.

Aparecia nos palcos como o Drácula. Sério, inabalável e sempre de negro. A mesma cor de seu humor, se é que ele tinha.
Quando perguntado sobre quem eram os maiores pianistas da atualidade, eis que respondeu: Sono tutti morti.

Na biografia impressa nos programas, não havia menção do seu passado acadêmico ou de realizações profissionais. Somente comentários genéricos sobre suas atividades extramusicais: médico, campeão de esqui na neve e piloto de fórmula um.

Sua aventura no mundo dos negócios foi tragicômica. Tornou-se co-proprietário de uma companhia de discos para quem se recusou a gravar! Foi decretada a falência e ordenado o confisco de todos os seus bens. Se tocasse na Itália, seus cachês seriam arrestados pela Receita Federal local. Depois desse incidente, deu somente um recital em sua terra natal. No Vaticano, em homenagem ao Papa.

Sua técnica era excepcional, jamais ouvimos uma única nota errada ou esbarro vindos dele. Seu colorido de sonoridades eram infinitos. Algumas interpretações entraram para a história, como sua versão de Gaspard de la nuit, de Ravel. Assim como as obras de Debussy.
Era de uma delicadeza e refinamento sem tamanhos, compravadas em especial no Scherzo Nº2 de Chopin.
Outras obras tomaram outras dimensões depois de suas leituras,exemplo disso é o concerto nº4 de Rachmaninoff ou o Concerto em Sol de Ravel.

Para o musicólogo italiano Paolo Isotta, "era possidor do absoluto, com um fanático controle do próprio instrumento a serviço do expressivo".

Abaixo um vídeo do maestro interpretando uma peça que particulamente gosto muito, e sempre a incluo em meus recitais, audições ou qualquer outra apresentação em público.

De Domenico Scarlatti, sob as mãos do gigante Michelangeli. Sonata K 27 em si menor:

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