terça-feira, 6 de abril de 2010

Nosso primeiro grande compositor


Alguém aí sabe quem foi o primeiro grande compositor que o Brasil teve??? Não?? Pois então, poucas pessoas ouviram falar dele, inclusive estudantes de música. Foi um neto de escravos, de família pobre chamado José Maurício Nunes Garcia.
Quando eu tinha meus 12 anos mais ou menos e pensava sobre Beethoven ou Mozart, não imaginava na exitência do Brasil, era como se simplesmente não existisse, como se houvesse um vácuo por aqui e no tempo. Ledo engano, o Brasil, claro, óbvio, já existia. E já se fazia música por aqui e um dos responsáveis por isso era justamente ele: Padre José Maurício Nunes Garcia, sim Padre, mas que segundo uma grande pesquisadora de sua obra, inclusive reponsável por catalogá-la, Cleofe Person de Mattos esse foi somente um pretexto para alcançar um status no campo da música. O padre José Maurício teve 6 filhos, siiim ele teve filhos, com uma moça chamada Severina Rosa de Castro (estão vendo, essas histórias são antigas, mas pelo menos foi com a mesma mulher e ela não era uma adolescente....sic...). Filho de Apoliário Nunes Garcia,branco, e Victória Maria Da Cruz, filha de escravos, compôs sua primeira obra aos 16 anos e foi ordenado padre aos 25. Nasceu no dia 20 de setembro de 1767 no Rio de Janeiro e durante sua vida obteve reconhecimento e respeito como compositor mas como aconteceu com a maioria dos grandes gênios, morreu na miséria.
É um dos fundadores da Irmandade Santa Cecília, em 1784, que reunia professores de música do Rio.
Em 1798 foi nomeado mestre-de-capela da Catedral da Sé do Rio de Janeiro e obtêm no mesmo ano licença para pregar. Era um homem culto que conhecia bem o francês o italiano e tendo também noções de inglês. Possuia uma ótima biblioteca musical provida com as melhores obras clássicas e mais recentes da época.
O ano de 1808 é famoso, provável que vocês já tenham ouvido falar, inclusive tem um livro(que não me lembro quem é o autor) em que o título é justamente esse: 1808....
Pois bem, foi o ano em que desembarcaram em terras tupiniquins o então Príncipe Regente de Portugal, D. João VI e sua digníssima esposa Dona Carlota Joaquina, na verdade eles vieram pra cá fugindo do exército de Napoleão que havia invadido Portugal. A partir desse momento o Rio de Janeiro é elevado a capital do reino e transformações relevantes começam a acontecer, social e culturalmente falando. grandes teatros são construídos e a cidade começa a se aproximar dos padrões europeus. Depois virou aquele negócio né!? Não digo isso pela cidade, mas pelo nosso país, que se transformou.....nisso aí que a gente tá vendo.
José Maurício é designado mestre da Real Capela por D.João e começa então um de seus períodos mais férteis de criação. Entre 1808 e 1811 compôs cerca de 70 obras, dentre as quais a Missa de Nossa Senhora da Conceição para 8 de dezembro de 1810.
Acontece que em 1811 chega ao Brasil um português chamado Marcos Portugal que por sinal era o mais célebre compositor luso. Ele veio ao Brasil depois de uma bobagem que fez em seu país escrevendo uma ópera para o espetáculo de gala com que o exército invasor comemorava o aniversário de Napoleão,mas depois que as forças anglo-portuguesas derrotaram o exército invasor ele se viu numa situação embaraçosa e deu no pé e claro veio pra cá. Aí começam os problemas pra José Maurício que perdeu o cargo de mestre-de-capela justamente pra ele e foi designado a trabalhos menores. Embora compondo, sua produção diminui e as intrigas com Marcos Portugal continuam. Sua última década foi de decadência econômica e física
Suas obras tem suas próprias características embora um linguagem muito parecida com que se fazia na europa, sobretudo com relação a obra de Mozart e Haydn, mas que em nada lembravam seus antecessores do período barroco.
Em 1816 chega ao Brasil o compositor austríaco Sigismund Neukomm, que ficou fascinado ao conhecer José Maurício e sua obra, fomando uma grande amizade até o ano em que partiu de volta em 1821.
Em 1826 compõe sua última grande obra a "Missa de Santa Cecília".
Falece em 18 de abril de 1830. Portanto, nesse ano é outro compositor lembrado e homenageado. Fará 180 anos de sua morte.
Essa é um pouco de sua história que claro foi resumidíssima, mas podemos dizer hoje que ele figura entre os mais brilhantes compositores brasileiros ao lado de Carlos Gomes e Villa-Lobos.

Abraço e boa música a todos!!!

8 comentários:

  1. É, Rodrigo, uma das coisas que eu aprendi nas suas aulas foi exatamente isso: o Brasil existe! E tem compositores ótimos, bons mesmo!

    Pena que não se conheça tanto este lado bom da música no Brasil, não?

    Dá uma passada no meu blog, eu postei coisa nova lá, acho que vc vai poder ajudar, rs! abraços!

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  2. Concordo com você Dani, pena que não se valorize este lado da música brasileira. Também conheço poucos compositores, e o acesso a gravações decentes é difícil.
    Uma ideia: Rodrigo, você podia postar aqui tudo o que fala na aula de história da música, para divulgar o trabalho dos compositores brasileiros (os bons, é claro) e ainda ajudar seus alunos! (rs q folga da minha parte)Abraço!
    Claudia Muniz

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  3. Queridos! Obrigado pelos comentários! Valeu Daniel e fico feliz por saber que minhas aulas serviram para te apresentar esse lado que de certa forma você ainda não conhecia.


    Claudia, é sim uma ótima idéia! A começar por esse post que é matéria de prova rssss
    Pode deixar que vou apresentar a vocês muitos compositores e obras importantes que farão parte do repertório de todos, tenho certeza. Desde os mais conhecidos aos menos falados e olha que tem gente, hein!
    Obrigado pelo comentário e a idéia.
    Abraço a todos!!!!

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  4. Rodrigo, vc tb é professor? Que legal! Onde vc dá aula? Adorei essa história do padre, pobre preto, cheio de filhos e compositor Maravilhosa! Vc não tem conhece nenhum video de algum intérprete tocando peças dele? Manda aí!

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  5. Olá Claudia!!! Legal a história dele, né!? haha achei engraçado sua definição rss, que na verdade era mesmo!
    Então, dou aulas no conservatório daqui, Escola Municipal de Artes Maestro Fego Camargo.
    É uma escola grande em numero de alunos, uns 1500 ou mais em todas as areas, Música, Artes Plásticas, Cênicas e Ballet. Dou aulas de piano, teoria musical, solfejo e história da musica brasileira.
    Vou postar algo mais sobre ele, sim! Valeu pela dica!
    Bjo

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  6. Muito bom post, Rodrigão!
    Vejo sempre, muitas obras deles no blog do P.Q.P. Bach, mas confesso não ter ouvido ainda (o que vou procurar fazer o mais breve possível!). E como disse a Cláudia, interessantíssima a história dele!

    Abração

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  7. Muito interessante! Não conhecia, para mim era só Villa Lobos e Carlos Gomes mesmo...obrigada por aplacar um pouco a minha santa ignorância...rsrs

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  8. Olá Thelma!! Muito obrigado pelo comentário!!!
    Imagina, não é ignorância, não. Infelizmente sua obra é pouco divulgada e apresentada pelos teatros. Pouca gente acaba conhecendo, mas vale a pena, ele foi praticamente um auto-didata e produziu obras excelentes. Fico feliz por ter ajudado e ter fornecido um pouco de informação.
    Obrigadão!

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