

A diferença de uma boa edição para uma outra qualquer, não está relacionada somente a articulações, fraseados, marcações de pedal, de andamento, de dinâmica.....mas como já presenciei( é raro mas acontece) de ter até notas trocadas......
Imaginem num texto, onde UMA vírgula é essencial para modificar a compreensão do mesmo:
O homem livre por natureza tem direitos inalienáveis.
O homem, livre por natureza, tem direitos inalienáveis.
Na primeira frase, supõe-se que apenas alguns homens, os livres por natureza, tem direitos inalienáveis. Na segunda frase, supõe-se que todos os homens são livres por natureza.
Então! Na música é exatamente igual, levando em consideração que a música também é uma linguagem, certo!?
A questão interpretativa é um caso a parte. Cada um é cada um, mas que a princípio deve RESPEITAR as indicações do texto. E é aí que mora o perigo......essas benditas indicações. Devemos acreditar em tudo que lemos??? Sim, se a edição for respeitável. Como fazer tal fraseado? A princípio como está escrito! Como deve soar isso ou aquilo?.......Como você entende que deve ser! Sempre partindo da idéia que devemos interpretar de acordo com a nossa visão sem modificar o sentido original do texto, o que o compositor pensou. Na verdade quando falamos de interpretação, isso gera uma série de convicções e blá, blá, blá....idéia para um outro post ainda mais complicado......rs
Estava conversando com um amigo via MSN há muito tempo atrás, e ele estava fazendo um trabalho sobre edições. Na época ele morava no EUA e enquanto falava comigo tinha a sua frente várias cópias de manuscritos das sonatas de Beethoven junto com várias partituras já editadas, e e ele comentava como nenhuma delas era fiel ao texto do compositor, e como era ilegível certas coisas, o que provavelmente causara muita confusão por parte dos copistas da época e estudiosos de hoje em dia. Li numa biografia de Chopin que ele gostava de mudar suas peças até mesmo depois de já editadas, e que seu célebre noturno Op. 9 Nº 2 teria sido modificado com a inclusão de vários ornamentos depois que já estava circulando por aí (isso para que dificultasse sua execução) , já que muita gente na época estava tocando-o, e sei lá porque, isso não agradou Chopin.

O fato é que algumas dessas edições são extremamente confiáveis, a maior delas é a edição URTEXT ( que significa "texto original") ou seja , não passou na mão de revisores, que é quem adicionam ligaduras, staccatos e tantas outras infindáveis maneiras de executar, de acordo com que eles acham que devem ser. Essa traduz o texto com total fidelidade, e quando alguma coisa não condiz com o original eles te explicam o "porque" da mudança. Sua especialidade são as obras de Bach (que diga-se, não costumava indicar andamentos, sinais de dinâmica, articulações e por aí vai), Mozart, Beethoven entre outras, se bem que até a Bíblia traduzida para a língua Zulu seria confiável se houvesse uma edição Urtext pra isso....rs
A edição Paderewski para Chopin, assim como as edições do Cortot também são boas. As edições Schirmer's também são confiáveis para Schubert, ou Mozart, etc.......A Urtext tem uma versão vienense de capa vermelha que é muito legal também. Ou seja, opções nós temos, o que nos falta na maioria das vezes é dinheiro....hahaha ...... já que não é barato comprar partituras.
Algumas pessoas não fazem questão dessa partitura ou aquela, confesso que por falta de opções de nossas bibliotecas as vezes acaba sendo assim mesmo, mas por falta de opções!!!
O ideal é que sempre que possível, a partitura deve ser de confiança para que possamos tocar o que o compositor escreveu e não o que o revisor acha que deve ser.
Abraço e bons estudos!